Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Para outra pessoa talvez bastassa dar alguns passos, abrir a porta e dizer qualquer bobagem, mas nenhuma resposta a satisfaria. O que precisava não conseguiria com qualquer conversa casual.
Há meses não sentia essa dor, a dor que a acompanhava desde criança, e para a qual era cada vez menos tolerante. Era mais fácil antes, na época em que achava que a dor era uma parte indissociavel da sua existância, quando não conhecia outro estado; era mais fácil então. Mas veio o primeiro céu azul, o primeiro momento de paz: devia ter uns treze ou quatorze anos quando pela primeira vez o céu se tornou real, aquele brilho seco, aveludado, profundo, quando ela se viu envolvida pora alguma coisa morna, e sorriu. Demorou um pouco para perceber o que estava acontecendo, para perceber aquela ausência, a ausencia da dor, que a permitia ver o céu. Daquele momento em diante toda a sua vida fora uma luta constante por aquela ausência, e a dor se tornou cada vez mais insuportável, pois que se havia descortinado uma vida sem ela.
Não saiu do quarto, apenas voltou a dormir, a tentar dormir. Andava dormindo bastante esses dias para passar o tempo, na esperança que algum milagre do tempo trouxesse de volta a leveza.

3 comentários:

Adam Flehr disse...

Esplêndido texto, Eliana.
A dor de viver para alguns é insuportável, como foi para ela...

Tamara Queiroz disse...

Eu me reconheço aqui (muito!), mas estou com a leveza nos pés até a alma.


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Admiro o que escreve, Eliana!


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B-jinhos

don Martini disse...

...como compreender esta leveza de alma, este desanuviar de outras "tribos"? Falaríamos da mesma coisa? Suspende-se a dor subterrânea e o céu, que sempre esteve lá,volta... sem artimanhas do coraçào, apenas um perceber gratuito... seria a mesma coisa? A busca daquele estado consumindo a vida que é da terra e seus subterrâneos... a leveza sem preço e a mais cara... seria a mesma coisa? Lindo escrito, leve, penetrante mas terrivelmente, dolorosamente proundo! Minha "aldeia" admira a tua "aldeia"...