Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Minha grande amiga, a Louca

Durante muitos anos tive medo da Louca, medo que ela me fizesse mal, ou às pessoas que eu amava. Encarei a Louca como inimiga e gastei muita energia tentando me livrar dela. Tentar matá-la de fome me deixava fraca, feia, com aparência doentia a ponto de causar olhares assustados nos outros. Lavá-la em lágrimas costumava aquietá-la, mas me causava terríveis dores de cabeça e inchaços que duravam dias, além de também assustar os outros, que ainda por cima confundiam a magreza e olhos inchados com fragilidade. Passei então pela fase de manter a Louca presa. Aos primeiros tremores do seu despertar aumentava as medidas preventivas, como exercícios físicos, abstinência de álcool, afastamento de qualquer pessoa ou situação que a provocasse... A última medida teve como efeitos colaterais uma boa dose de perda de memória e de solidão, mas pelo menos a Louca não se expressava muito. Sentir sono também liberta a Louca, então evitava sentir sono, dormindo a qualquer momento em que ele chegasse; dormir às seis, sete horas da noite, dormir o dia todo, ou mesmo dormir em eventos sociais é truque que costumava aquietar a Louca. Costumava, porque ela deu pra me aparecer nos sonhos. Outro dia sonhei com um poltergeist. No sonho, o fantasma queria falar com uma pessoa muito querida minha, mas tudo que conseguia era fazer muito barulho batendo cadeiras e atirando coisas. Eu dizia para o "fantasma" - Fala comigo que eu passo o recado! Mas o fantasma tentava, tentava e não conseguia se comunicar comigo ou com a outra pessoa. Pensando no que me aconteceu nos últimos dias, chego à conclusão que o fantasma nada mais era que a Louca. Ela vinha me rondando, até que no último sábado despertou. Era madrugada e eu estava sonolenta, saindo de uma festa, quando ela surgiu furiosa, escandalosa, ofensiva, e disse poucas e boas para a pessoa querida que eu havia mencionado antes. Rapidamente tratei de levar a louca pra casa e colocá-la pra dormir. No dia seguinte pedi desculpas pela forma como a Louca o havia tratado, mas fiquei pensando que, por mais que tenha perdido totalmente a razão, ela estava apenas tentando me defender e, por mais que ela estivesse confundindo e superdimensionando os motivos, eles realmente existiam. No final das contas, a Louca é minha amiga, uma amiga muito intuitiva, mas com uma enorme tendência ao exagero. Passei anos temendo e me escondendo de uma amiga que só precisa ser ouvida e ensinada a me defender sem tanto estardalhaço! Hoje peço desculpas, mas não pelas atitudes da Louca, peço desculpas à Louca, por ter sido tão injusta com ela durante tantos anos, tratando-a como inimiga. Espero que a Louca me perdoe, o que ela provavelmente fará, porque me ama mais do que eu consigo me amar; espero que a Louca me perdoe e que possamos iniciar um longo e harmonioso relacionamento, em que ela me avisará dos perigos que intui, eu a ouvirei, tentando ensiná-la a ser menos dramática e confusa, para que ela possa me ajudar a me amar e a me defender. Talvez assim a Louca não precise mais bater móveis ou fazer escândalos, talvez ela possa relaxar ao perceber que não quero mais matá-la ou prendê-la. Espero que, de agora em diante, possamos ser muito felizes juntas, minha grande amiga, a Louca, e eu!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Suicida

Ana andava vivendo feliz para sempre quando decidiu desistir, não da felicidade, mas da vida. Na realidade nunca se sentira muito confortável com a vida, mas sempre existiam pessoas a quem magoaria se partisse. E existia também o desespero de partir sem nunca ter experimentado a felicidade. Em determinado momento resolveu dedicar-se apenas a ela, à felicidade. Mudou aqui, ajustou ali, eliminou um pouco, conquistou um tanto, lutou bastante, até que percebeu-se feliz, e feliz andava quando vieram os sintomas. A princípio não entendeu bem, mas, como não era boba, resolveu pesquisar e então viu-se diante de uma decisão. Ana andava vivendo feliz e decidiu que seria para sempre. Não permitiria que a felicidade partisse antes dela. Ana aprendera que nada é permanente, e como não suportaria que o futuro a transportasse para um estado anterior àquele momento, decidiu nada fazer além de esperar... esperar sendo feliz...