Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Brincadeira (muito) séria

Foto: www.amcostarica.com/crocodile011005.jpg


Esse bicho vai acabar me mordendo, pensava enquanto olhava a cauda enorme, a agilidade para subir e descer (estranho, nunca havia imaginado crocodilos subindo e descendo por mesas e cadeiras) e, o mais assustador , os destes imensos (N... repetiu a brincadeira sobre não saber como esse cara ainda tem dentes, sendo assim, abusado - deliciosamente abusado, complementaria eu, se não me houvesse faltado coragem para emitir sons).

Fico me perguntando se é possível temer o que tanto se quer, e, que de tanto querer, foi cuidadosamente alimentado desde que cabia em uma caixa de sapatos. O selvagem é assim, belo, passível de amor, admiração e temor, justamente por ser livre na essência. Como creio que só os pares podem amar o selvagem, e que o livre não tem porque temer o livre, dou por encerrada a questão.

Você simplifica tudo, disse, e eu pensei que nada é mais simples que amar, enquanto se ama.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Pas de deux, Tracy Curtis

A última vez fora há uns 20 anos. Tentava um novo amor. Na verdade não era bem amor, queria que fosse! Um rapaz desses que a família aprovaria. Pois, decidira passar o reveillon com ele. Por que não? Tinham algumas coisas em comum, poderiam até formar uma família bacana! Sim, família bacana era tudo o que queria naquela época. Aliás, era tudo que nunca deixara de querer.
O problema é que havia um bailarino... doce, complicado, instável, especial... o tipo de sujeito que dançava no meio da rua, em madrugadas chuvosas; que chegava de sobretudo, cabelo encaracolado e um lindo sorriso, desses que a faziam esquecer os atrasos, os desaparecimentos, as pequenas infidelidades; que tinha toda uma galáxia fosforescente no teto do quarto, que a chamava de “minha boneca” e simplesmente adorava caminhar a esmo, com um livro nas mãos, sempre pronto para ler onde tivesse vontade; que não gostava nadinha de trabalhar; que faria a sua avó sofrer um grande desgosto; que fazia seu coração acelerar e seus olhos se encherem de ternura...
Meia-noite (meia-noite mesmo, naquela época não havia horário de verão), fogos, alegria, abraços, beijos, o sujeito bacana, o coração apertado – o que estou fazendo aqui, meu deus? - os olhos úmidos em direção ao mar e uma oração à Iemanjá.
Rapaz bacana descartado, um pequeno príncipe nos braços, o bailarino transformado em pai, dificuldades financeiras, dificuldades no relacionamento, desejo de levar uma vida normal, sem tanto drama, como bem definira a irmã, apenas uma vida normal, com um pai bacana... Não, jamais pediria nada à santa novamente, não sabia pedir, e, da próxima vez, faria tudo direito, como fazem as pessoas normais, as que vivem sem tanto drama.
Mas, o tempo passa, as crianças crescem, a santa continua lá, submersa, durante os anos de calmaria, soprando cânticos materializados em espuma sob os pés amantes... água mole em pedra dura...


segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vida Real?

"Não leve o personagem pra cama
Pode acabar sendo fatal
Então desmonta logo esta máscara
Voltemos à estaca zero
Fica tudo igual
Normal "
(Lulu Santos)

Uma vez ia morar em Santa Teresa! Foi quando ele disse que ia gostar de ir lá! Soube imediatamente que desistiria da idéia. Por puro terror! Sabia que depois que ele fosse lá, não permitiria que mais ninguém fosse e ficava imaginando os momentos em que ele não estivesse, momentos que poderiam se estender por meses, como já acontecera antes. A solidão, a espera... não pôde lidar com esse medo.
Por anos evitou dormir com ele. Lembra a primeira vez em que ele estendeu uma blusa, dessas que se usa para dormir, em um claro convite para que ficasse, mas foi embora. Sempre ia embora. Ia embora porque sabia que aquele território, o do sono, era um dos poucos que não havia sido invadido por ele, pelo menos não fisicamente. Já os sonhos... mas isso é outra conversa!
Um dia houve uma música, só mais uma música, mas era como se fosse para ela e então ficou, assim, meio sem perceber, foi ficando, dormiu, tomou café, saiu, voltou....
Depois veio a semana seguinte, e a outra, e quando percebeu estavam planejando uma viagem...
O final da história já era conhecido, mas, acreditava que o final seria apenas um hiato. Sempre fora isso, apenas um hiato.