Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

sábado, 8 de agosto de 2009

Joana e as horas

Uma lágrima caiu na xícara de café com leite. Estava apoiada na janela e as lágrimas pesavam em seu rosto. Finalmente elas, as lágrimas, embora nunca houvessem pesado tanto. Por um instante distraiu da dor para sentir que machucavam a pele como uma enxada. Tinha a sensação de que o rosto amolecia ainda mais rápido. De uns tempos pra cá sentia-se derreter.
As amendoeiras mudavam de cor. Sempre um belo espetáculo pensava.
Havia sido uma semana esquisita: por vezes a ansiedade fora tanta que parecia que iria se afogar, tomara um ansiolítico, tomara e continuara tomando nos dias subsequentes. Joana detestava drogas, havia chegado àquela idade encarando todos os sentimentos bons e ruins, um por um, mas aquela havia sido uma semana estranha. Fumara um maço de cigarros em um dia. Joana não fumava. Havia bebido um monte, Joana que não bebia.
Agora olhava pela janela o dia amanhecer e pensava nas horas que seguiriam arrastadas, torturantes, horas de vazio, horas de saudade. Joana amara. Amara completamente, incondicionalmente, inteira, como há muito não ousara.
Agora eram as horas, a dor no peito, as lágrimas densas.
Ainda era muito cedo, madrugada, tomou outro ansiolítico e voltou pra cama, precisava distrair as horas.

Um comentário:

Tamara Queiroz disse...

Mmm... fico a pensar num livro de contos só seu.

Que delícia cada leitura!