Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

domingo, 3 de maio de 2020

Casa no campo


Hoje me deu vontade de falar sobre o meu “Campo no apartamento”, mas para isso é preciso voltar um tanto no tempo. Quem da minha geração não se emocionou ouvindo Elis Regina cantar “Casa no campo”, do Zé Rodrix? Quem não sonhou com seu cantinho, amigos, discos, livros, e nada mais? Ou pelo menos aprendeu sobre arcadismo nas aulas de literatura tendo essa música como exemplo? Quantos de nós não adoram essa música até hoje? Pois essa quarentena me aproxima muito daquela adolescente que desafinava a música, cheia de emoção, enquanto sonhava com o “filho de cuca legal” que teria um dia. Ocorre que minha vida é na cidade. E cidade das grandes. Embora envolva campo, meu trabalho é aqui a maior parte do tempo. Meu filho, com uma a cuca tão legal quanto um filho meu pode ter, é uma pessoa urbana. Enfim, não estou no campo. Ou melhor, estou, mas em vez de uma casa no campo, estou em um campo no apartamento. Sim, eu trouxe, na medida do possível, o campo para o apartamento. Um grande pé de maracujá atravessa a minha sala. No meu jardim não pastam carneiros e cabras, não ouso cria-los aqui. Em seu lugar, pastam solenes caramujinhos para os quais faço as vezes de predador controlando a população com armadilhas. Pastam também outras tantas pequeninas criaturas com as quais convivemos bem. Pena que joaninhas não gostam de viver por aqui, porque não tolero os pulgões. Os gatos gostariam muito de pastar também, mas os contrario dando preferência às epífitas e a plantas que não sejam do interesse deles, como as aromáticas. Tenho ainda uma ou duas hortaliças, que mantenho fora do seu alcance. Gatos não são tão fáceis de controlar como os caramujos, têm muita personalidade! No meu campo de apartamento tem ainda uma criação de minhocas, das de verdade, embora também as tenha na cabeça de vez em quando; uma criação de fermento de pão, e ainda o meu neto canino, um adorável estabanado ciumento das plantas. Apesar das terríveis circunstâncias, e por isso mesmo, dentro do possível, vivemos felizes aqui na quarentena, com discos, livros, amigos atualmente virtuais, e nada mais. Ah, não componho rock rurais, mas os ouço!

Nenhum comentário: