Seu aniversário estava próximo. A terceira idade já a havia encontrado, porém sem nenhuma comemoração especial. Havia sobrevivido a uma pandemia nos últimos anos, a velhice e a doença a rondavam. Primeiro havia sido o pai, que já se fora após muitos anos de invalidez. Agora a mãe, com demência, exigia seus cuidados. Mas não estava abatida, não dessa vez, não ainda.
Não sabia exatamente em que momento tudo começou, mas sabia quando percebeu. Foi em uma pequena livraria em um shopping. Resolveu dar uma volta enquanto aguardava uma consulta médica que estava muito atrasada, e foi surpreendida ao encontrar essa livraria. Algo raro em 2024, uma livraria. Por algum motivo andava pensando em bebês nas ultimas semanas e parou para se deliciar com as ilustrações dos livros infantis. Depois passou para a seção de adultos, onde escolheu dois livros para si. Um pelo autor, e outro pela linda capa. Antes de voltar ao consultório médico, ainda se deu de presente dois colares e um pequeno brinco. Nada caro, tudo lindo e satisfatório. De volta ao consultório, mergulhada na leitura, em parte porque estava gostando, e em parte para evitar a conversa de uma outra paciente muito simpática. Foi quando começou a ter ideias. Na verdade não sabia bem se tinha as ideias, ou se elas a tinham, mas de qualquer forma, aquilo significava a chegada dos sopros de vida que a atingiam esporadicamente, trazendo novos projetos.
Sorriu.
Ao chegar em casa escreveu uma dedicatória para si mesma, pela primeira vez.
Dizia: "Querida Eliana,
Que você permaneça sendo muitas, e que cada uma tenha voz. Crie! Trabalhe! Ame!
Você é a pessoa mais importante da sua vida, aproveite!
Feliz aniversário! 💓
Eliana, 2024.
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