Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

sábado, 29 de junho de 2024

Hoje não

 

Não consigo bem descrever o verde, mas é suave, com um tantinho de cinza, clarinho, repousante. E os puxadores foram lixados de modo a deixar entrever o marrom da madeira. Não recordo se foi o primeiro móvel que comprei na vida, creio que sim. De madeira boa, não sei dizer qual. O verde veio bem mais tarde. Antes nem gostava deste ar desgastado, não lembro bem porque dei essa lixada nos cantos. Mas lembro porquê pintei. Gosto de olhar pra ela, os puxadores como dois olhos me encarando serenos e fortes. E toda a bagunça sobreo tampo: livros, lápis, papéis, cadernos, computador, vitaminas, telas, um tantinho de maquiagem. Porções das minhas construções. Estamos aqui por você, dizem. Pode ser que me seja tirado um dia, se a demência vier, como veio para a minha mãe, mas daí já não terá mais importância. Por agora estão ali, fortes, testemunhas das minhas edificações. Muralha inviolável. Espada, defesas. “Não mexe comigo que eu não ando só, eu não ando só, eu não ando só”.

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