Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Era uma angústia tão antiga e tão urgente... Começou com aquela idéia estúpida de uma viagem em familia, idéia dada por ela mesma, que ousara subestimar o detalhe de que não era a sua familia. Dali para o velho sentimento de não caber fora apenas um pequeno atalho. Mais fácil quando separados, ou até mesmo em dois, mas todos reunidos criavam um conjunto que a desequilibrava, porque não era natural não lembrar-se que faltava alguém, alguém que não era ela. Sentiu-se isolada. Por algum motivo com raízes muito antigas, algum motivo bem incoerente, a fuga do sentimento de isolamento costumava ser isolar-se ainda mais, embora enroscar-se como um gato na poltrona, apenas para dormir em plena festa, não ajudasse muito em um prazo maior que a extensão do sono. Essas fugas costumavam vir imperiosas, mas não resolviam, sequer remediavam, apenas um pequeno descanso da situação. A época do ano também não era a mais propícia: todas as confraternizações, tanta simpatia, tantas gentilezas... definitivamente desejava afastar-se um pouquinho e só acordar quando tudo aquilo tivesse passado. Ir ao cinema só com ele, o seu amor, ir ao cinema de mãos dadas teria ajudado, sempre ajudava, aquela intimidade, aquele mergulhar em outros contos, aquilo teria aliviado muito, não estivesse ele nessa época, como a maioria, ocupado já o suficiente em lidar com os outros seus. Vai passar, pensava, enquanto respirava lentamente desejando que as noites agora fossem mais longas, para que pudesse ficar mais tempo coberta, no escuro, em silêncio. Se ao menos Helena pudesse falar um pouco, mas também ela estava tendo dificuldade em lidar com tanta interação familiar. Nada restava, então, que perder-se nas palavras, seu conforto, seu silêncio. Palavras amigas nas quais se escondia e desvendava.

Nenhum comentário: