Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Leveza?

Comprara-o naquela tarde, em uma dessas lojas de quinquilharias usadas. Já imaginava o bule fumegando vapor de café fresquinho, pousado sobre a toalha de renda na mesa da sala, próxima à janela. Imaginava-se saboreando o café de olhos fechados, sentindo no rosto o calor gostoso da luz que entrava filtrada pelas folhas de uma amendoeira brincalhona. Achara-o lindo, com suas cores verde e branca, ornamentado com ramalhetes dourados; desses bules bojudos na base com bico elegantemente recurvado e asa delicada. Cerâmica da década de 60, made in Brazil. Um encanto!

Leveza... nunca perca a leveza...

Porém no fim da tarde chegou a gripe, ou seja lá o que fez com que o rapaz ardesse sob seus olhos preocupados. A febre e aquele medo antigo, de não estar a altura da responsabilidade, de não ser capaz. Jamais superara aquele medo que nascera, ou que pelo menos se manifestara, no momento da chegada do rapaz, junto com com o líquido que escorrera pelas suas coxas antes mesmo de perceber a dor da primeira contração. Acostumara a amordaçar aquele sentimento para que não precisasse pedir muito, para que não precisasse pedir quase nada. Para ser sempre interessante, divertida, leve. Acostumara a amordaçar aquele sentimento junto com tantos outros, incômodos, que encarcerava dentro do peito e que só gritavam à noite, nas horas de insônia, quando, abraçada aos travesseiros, se enrolava no edredon como em uma camisa de força.

Com a febre veio o medo, a solidão e a consciência da necessidade de dividir também aquilo. A necessidade de ouvir a voz tranqüilizadora e afetuosa do homem amado; porque amava. Veio a febre e com ela a necessidade de ousar uma nova etapa, de ousar algo que evitara fazer durante os últimos anos: pedir, quase exigir o que dava com prazer, o que achava natural dar.

2 comentários:

meus instantes e momentos disse...

muito bom o texto, muito bom.
Tenha um belo final de semana.
Maurizio

Tamara Queiroz disse...

Você voltou. Que bela notícia (e um sorriso largo)!



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Uma mulher e os seus sacrifícios.