Gostava das palavras. Tanto, que as da sua língua materna
não eram suficientes. Precisava aprender outras, várias, quanto mais, melhor.
Tinha um imenso prazer em se comunicar na língua local em diferentes países.
Não que fosse fluente em todas, mas ter o suficiente para pedir informações e
entender avisos de comissários de bordo, pedir ou dar direções a motoristas de
taxi e recepcionistas de hotéis e museus. Entrar em um bar ou restaurante e
pedir o que quisesse. Tudo isso causava satisfação, e já havia sido o caso de
provocar risadas dos seus interlocutores por ter se aventurado além dos seus
conhecimentos.
O que gostava na matemática (talvez só o que gostasse na
matemática) eram as letras gregas (que se juntaram aos radicais e começaram a
fazer sentido em letreiros, quando visitou seu país de origem). Estudou latim para
entender descrições botânicas. Achava incrível como as palavras se distribuíam
em textos. Amava o fato de a linguagem escrita permitir ser decifrada no tempo
que fosse necessário, embora desde cedo lesse em boa velocidade. Já a palavra
falada por vezes saltava mais rápido que pudesse acompanhar. E mudava de sentido
avidamente... Palavras faladas viviam bailando, rodopiando e evoluindo, como pokémons
ou como sacis em redemoinhos, antes de serem capturadas em textos. Fascinantes.
Lembrava de uma professora da oitava série comentando com ar
entusiasmado que se havia comunicação, não havia erro. Achava a comunicação por demais complexa, havia muito erro proposital. Pensou nas sequências
de palavras construídas não para esclarecer, mas a fim de criar enigmas e
duplos sentidos, ou inverdades puras. Achava muito angustiante.
Por vezes, como agora, sentia sua energia capturada em dificuldades de comunicação. Com o passar dos anos havia tomado a decisão de se esforçar para não ficar presa nisso. No momento estava pensando em liberar essa energia voltando-a para o aprendizado de caracteres chineses. Pouco pratico, mas bem mais divertido.
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