Na época ela expressou que havia perdido a alegria matinal. Que acordava e não tinha vontade de sair da cama. Era como media a potência da sua tristeza, do seu luto. A outra confidenciou que agora andava inquieta, mas que antes não era assim, que antes costumava ficava em paz em casa, com a família, fazendo suas coisas. Na verdade, não sei se “inquieta” foi a palavra que ela usou, mas era algo como ter perdido o sossego. Talvez fosse assim o que chamam de “perder o chão”. Teve ainda a que comentou algo sobre a casa ser seu refúgio. Esses pedaços de discurso, reunidos como em um trabalho de patchwork, iam mostrando o cenário da bolha disfuncional em que Inês vivia. Ou, talvez, ao contrário, a bolha de felicidade na qual algumas pessoas usualmente habitavam.
Décadas se
passaram até que todos esses fragmentos reunidos começassem a fazer sentido, que
Inês descobrisse o que deveria buscar. Baita desperdício de tempo? Talvez não, talvez
todo o caminho que Inês percorrera ao longo dos anos, fosse justamente alimentado pelo fato dela intuir que as coisas poderiam ser de outro jeito, embora ainda não
soubesse qual. Havia algo, um lugar de estar no mundo, que precisava ser alcançado.
Pensava nisso quando apoiou a caneca no tecido florido. Algumas pessoas, como Inês,
descobrem bem tarde. Algumas não descobrem nunca!
Nenhum comentário:
Postar um comentário