Um dia meu filho ainda estudante no final da adolescência me
contou que tinha uma festa de aniversário de um colega em um bairro bem
distante do nosso, e que ele e outros adolescentes estavam pensando em
contratar uma van para os levar e trazer. Assenti satisfeita em ver o meu rapaz
romper a bolha geográfica na qual havia sido criado. Ele então me contou angustiado
que um colega talvez não pudesse ir, porque morava em outro bairro, também
distante da casa do aniversariante, e não tinha como pagar a passagem. Disse e
ficou me olhando, talvez esperando uma explicação. Apenas devolvi o olhar e
aguardei a solução que a turma havia arranjado, com a felicidade da mãe que lê nos
olhos do seu filho que ele está salvo de ser um idiota alienado de classe média
da zona sul do Rio de Janeiro, ou coisa ainda pior. Devo essa satisfação ao
ensino público de qualidade, almejado e frequentado por todas as classes. Devo
isso às instituições democráticas onde estudantes de variadas origens sociais e
raciais podem se relacionar na qualidade de colegas e amigos, e podem discutir
ideias e soluções para a construção de uma sociedade cada vez melhor e mais
justa. Meu filho cresceu e é um jovem homem admirável. Algumas mães perdem suas
crianças de forma violenta e injusta. Tenho muita sorte!
..."E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim”... (Aos Nossos Filhos, Ivan Lins)