Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012



A primeira vez que parti devia ter uns três ou quatro anos e foi quando conheci a dor. A saudade era muito maior que o meu corpo, e como Alice, tinha medo de que o rio de lágrimas me afogasse. O sofrimento era uma dor física e as estranhezas no novo ambiente não ajudavam em nada. Eu era diferente. Mas tem essa coisa que chamamos de tempo, que eu estava começando a conhecer, embora ele passasse bem mais vagarosamente então. Havia as novas palavras que começavam a ser repetidas e a significar. E havia um fusca, e os passeios pelos trigais, e as roseiras do jardim, e as uvas, e o cheiro do doce sendo feito.  Havia o clube,  as matinês, e as cadeiras de madeira onde eu afundava e esticava o pescoço pra ver a tela. Havia um bebê, uma irmãzinha, e fraldas e chupetas e andadores, e a dor foi sendo distraída, diluída, cedendo lugar a mais e mais momentos bons, e o diferente, afinal, não era mais tão apavorante assim. Quando parti novamente, quatro anos mais tarde, o que era susto e dor acabou virando beleza e saudade. Não sei quando  esqueci  como é a vida, havia aprendido muito cedo, mas esqueci. Só que de uns anos pra cá ela voltou, a menininha,  voltou e me lembrou. Aprendi muito cedo, depois esqueci, mas agora lembro de tudo, lembro como é, como tudo se transforma o tempo todo, e como não há o que temer!!!

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