A primeira vez que parti devia ter uns três ou quatro anos e
foi quando conheci a dor. A saudade era muito maior que o meu corpo, e como
Alice, tinha medo de que o rio de lágrimas me afogasse. O sofrimento era uma
dor física e as estranhezas no novo ambiente não ajudavam em nada. Eu era
diferente. Mas tem essa coisa que chamamos de tempo, que eu estava começando a
conhecer, embora ele passasse bem mais vagarosamente então. Havia as novas
palavras que começavam a ser repetidas e a significar. E havia um fusca, e os
passeios pelos trigais, e as roseiras do jardim, e as uvas, e o cheiro do doce
sendo feito. Havia o clube, as matinês, e as cadeiras de madeira onde eu
afundava e esticava o pescoço pra ver a tela. Havia um bebê, uma irmãzinha, e fraldas
e chupetas e andadores, e a dor foi sendo distraída, diluída, cedendo lugar a
mais e mais momentos bons, e o diferente, afinal, não era mais tão apavorante
assim. Quando parti novamente, quatro anos mais tarde, o que era susto e dor
acabou virando beleza e saudade. Não sei quando esqueci
como é a vida, havia aprendido muito cedo, mas esqueci. Só que de uns
anos pra cá ela voltou, a menininha, voltou e me lembrou. Aprendi muito cedo,
depois esqueci, mas agora lembro de tudo, lembro como é, como tudo se
transforma o tempo todo, e como não há o que temer!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário