Não cantaria nenhuma ode à solidão. Nem escreveria uma. Acho
curioso quem faz. Curioso quem se gaba de passar o domingo sozinha, e do quanto
de si encontrou na empreitada. Meus domingos costumam ser assim, só. Ora
andando só pela cidade e seus programas culturais, ora só em casa, pintando,
cozinhando, escrevendo, lendo, trabalhando. Já foi tempo, e faz muito tempo, em
que a solidão me massacrava. Isso foi bem antes de aceitá-la como a uma religião,
um novo paradigma, em um ato de fé. Apenas aceitá-la, sem reflexão, sem
discussão, só porque é. A partir da aceitação brotaram tantas eus, que chega a
ser quase inacreditável. Tantas eus que foram dadas à luz, e que se revezam na
tarefa de passar o tempo... lembro de um diálogo de um filme, certa vez, em que
o rapaz dizia para sua companheira: _ É preciso saber passar o tempo, ou você
não vai sobreviver. E pensar que quase não sobrevivi... algumas vezes parece ter
sido, como dizem, por um triz. Mas veio a internet, e a facilidade de pesquisar
e estudar sobre diversas áreas do conhecimento, inclusive psicologia e
psiquiatria. De repente eu sabia o que fazer. De repente a solidão tornou-se
perfeitamente aceitável, e com o tempo, desejável. Nunca pensei que um dia
sonharia com ela, com o momento de estar só em casa e criar. Criar o que fazer,
perder o medo de estar só e criar o que fazer, ou mesmo de estar só e não fazer
absolutamente nada. Por vezes sequer dormir. Por vezes apenas sentar, respirar
e deixar passar o tempo. A solidão não é massacrante, não é assustadora,
não é sequer tema de nada, é apenas a essência, o que de mais real existe. Talvez
a única coisa real desse mundo.
Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!
domingo, 8 de dezembro de 2019
sábado, 26 de outubro de 2019
Em 13 de outubro
Noite de domingo e eu buscando a emoção certa para escrever.
Houve a sessão de cinema, houve a sopinha e o papo com as amigas na livraria, e
agora uma taça de vinho, o cachorro e o quase silêncio. É preciso fechar os olhos e sentir, mas o
sentir ficou antes. Antes dos desenhos, antes das pinturas, antes do silêncio,
antes da paz. O sentir ficou tão distante ultimamente, que é quase uma surpresa
quando aparece intempestivo no nomeio de uma cor, no meio de uma frase, no meio
de um cheiro.... De repente, inesperadamente, vem como uma onda imensa,
gigantesca, me arrastando às cambalhotas pelo fundo arenoso, me fazendo perder
a direção, a noção, o fôlego, fazendo arder as narinas e a garganta,
afogando. Difícil falar dele agora que
não está. A paz e o quase silêncio não se prestam à literatura. Nem amassar o
barro, nem pintar uma aquarela, nem sorrir durante uma aula, nem cozinhar o
jantar. Os pés descansando em cima da mesa de centro e o cheiro de maresia entrando
fresco não se prestam à literatura. A temperatura amena também não. Quase tenho
saudades suas nesse momento, mas a mente anestesiada pelo vinho não consegue
lembrar muito bem o que é saudade. Não há emoção que se escreva nesse momento.
Apenas sossego. Bendito sossego dominical!
Assinar:
Postagens (Atom)