Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

domingo, 5 de novembro de 2017

Hair



Não, eu não quero pintar.
Um dia na adolescência saí do banho e fui fazer alguma coisa no quintal. Quando entrei havia uma menina encaracolada no espelho. Cachos dançavam para todos os lados. Cachos que ao 13 anos eu ainda não conhecia, tamanho esforço da família e posteriormente meu em “domá-los” com toucas, a versão “chapinha” da minha infância. Acontece que gostei daquela menina desgrenhada e nunca mais me separei dela. Hoje não vejo mais a cor dos meus cachos. Sei que parte expressiva é branca, mas vive escondida. A cor acobreada já foi preta, castanha, vermelha, jamais branca. Ocorre, porém, que o couro cabeludo, o insistente, está vivo. O escondido ressurge periodicamente para horror e espanto de todos, e é rapidamente coberto. Era! Não quero mais. Quero ver meu cabelo, o original, o que meu corpo produz, o que continuaria sendo meu ainda que sumissem todos os cosméticos do mundo.
Não faça isso, dizem TODXS. Envelhece muito. Não, amadxs, o que envelhece é respirar, comer, o tempo, os anos, não o cabelo. Enfeia, amiga. Depende, queridx, o que embeleza e enfeia varia muito ao longo do planeta e do tempo. Não gostamos! Desculpa, mas vai ficar branco assim mesmo. Pelo menos pinta todo de branco. Não, meu bem, a ideia é justamente NÃO pintar. 
Como todxs, também não gosto de envelhecer. Também preferiria o rosto e o corpo de vinte anos atrás, já que a mente continua aquela. Aquela não, a de antes, a da menina desgrenhada olhando desafiadora para o mundo e pensando, essa sou eu, é assim que eu sou, e é assim que serei. Pois no momento tenho treze anos e dois dedos de raízes brancas.

Um comentário:

Celso disse...

Somos o que somos, não o que aparentamos. O que somos nós quando ninguém está olhando? Não é o cabelo que nos define. Somos o que somos, e quem gosta da gente, se realmente gosta, gosta do eu real que expressamos. O corpo é a maneira que temos para manifestar nossa essência para o mundo, mas não é o que nos personifica. E por melhor que seja o cabelereiro, ele não tem como mudar aquilo que realmente somos.