Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Tratava de não viver fingindo que vivia. Não viver era trabalhoso, era preciso passar o tempo ativamente. Estar parada assemelhava-se demais à morte, então era necessário fazer. Perseguir era o segredo, perseguir sempre. Seu modo de não viver enganava a quase todos. Assim, porque parecia feliz, era invejada pela felicidade que não tinha. Parte do enganar consistia em colecionar fotografias. Eram evidências de que estava sendo feliz. Encontrara o sorriso certo há alguns anos, e desde então o repetia sempre. Batom não precisava. Os dentes clareados e alinhados e os belos lábios bastavam. O brilho dos olhos, porém conseguia com lápis e rímel. Mais difícil falsear felicidade de cara limpa, então eram imperiosos o lápis e o rímel. Os cenários das fotos eram cuidadosamente escolhidos. Dias ensolarados e azuis, raios atravessando nuvens, folhas ainda cheirando à chuva, fins de tarde coloridos. Às vezes precisava percorrer muitas milhas até um novo cenário. Planejar e executar cuidadosamente os cenários fazia parte do "perseguir".
Tinha também o amor. Não o real, desse nada conhecia. Era incapaz de amar. Fora gerada sem ele, não tivera a chance de aprender a reconhecê-lo. Substituia por obrigações e cuidados excessivos, era o melhor que suas boas intenções alcançavam. Já o amor de fotografia, desse conhecia de sobra. De fotografia, cinema, livros... Passara boa parte da vida procurando um desses. Procurando, sonhando, desejando... Reconheceu-o em uma festa. Chamou-lhe rapidamente atenção o fato de que os olhos dele não correspondiam ao seu comportamento; tratava a todos com atenção, sua fala era afetuosa, por vezes tornava-se brincalhão e fazia todos rirem, mas os olhos pareciam perdidos. Ele está não vivendo, pensou, e seu coração se encheu de esperança. Talvez finalmente o tivesse encontrado, o amor de fotografia, alguém para não viver junto com ela té que a vida os separasse!!!

2 comentários:

Tamara Queiroz disse...

E nos reconhecemos e reconhecemos outras pessoas em cada linha...

Muito triste e real essa frase: "alguém para não viver junto com ela até que a vida os separasse!!!". E essas exclamações parecem facas a dar fim na história.

PS: Eliana, já pensou em fazer um livro das suas histórias e publicá-los como e-book, inicialmente? Teria apenas um pouco de trabalho na divulgação, no começo... depois deixa por conta das virais.

www.poemusicas.blogspot.com disse...

Gostei imensamente da tua escrita. Tem um quê de contrastes, não o que dizes mas o que se vê nos pontilhados do texto.

Beijo
Naeno Rocha