V... fez apenas uma das provas. Achou que tinha ido mal e abandonou a seleção. Não havia ido mal. Teve medo de não estar suficientemente preparada para aquele passo. V... tem 22 anos. Muitos temos a ilusão de que existe algo como “estar suficientemente preparado”; de que se fizermos tudo direitinho, conforme o planejado, teremos controle sobre o resultado final. V... foi momentaneamente paralisada por essa ilusão.
B... tem pouco menos de 20 e se depara com a percepção de que adultos mentem, erram e temem. Comenta como os adultos que ama são “crianças”. Anda refletindo sobre a solidão que sentiu e sente. Os adultos que a amam se esforçam para aliviar seu sofrimento, mas só podem encorajá-la e observar, afinal, B... está crescendo, encarando seus temores e buscando as ferramentas necessárias para enfrentar a vida. É um processo solitário. Como tantos outros importantes.
Zygmunt Bauman fala sobre o medo na entrevista publicada no globo de domingo. De como percebemos que em vez de controlarmos a natureza, como pretendíamos, estamos contribuindo para prováveis catástrofes provocadas pelo aquecimento global. Comenta ainda o fato de estarmos percebendo o quanto falhamos em diminuir as injustiças no planeta. Enfim, de como falhamos em controlar tudo o que nos causa medo. Conclui que essa falha provoca um momento de grande ansiedade.
Talvez um dos grandes desafios humanos, em escala pessoal e global, seja compreender que o medo não pode ser abolido, nem superestimado, mas deve ser utilizado com o final para o qual foi criado; nos manter vivos, nos dando poder para fugir ou enfrentar! O crucial seria discernir os momentos em que devemos fazer uma coisa ou outra, com a certeza apenas de que façamos o que fizermos, o resultado será ainda medo, para que continuemos.