Não cantaria nenhuma ode à solidão. Nem escreveria uma. Acho
curioso quem faz. Curioso quem se gaba de passar o domingo sozinha, e do quanto
de si encontrou na empreitada. Meus domingos costumam ser assim, só. Ora
andando só pela cidade e seus programas culturais, ora só em casa, pintando,
cozinhando, escrevendo, lendo, trabalhando. Já foi tempo, e faz muito tempo, em
que a solidão me massacrava. Isso foi bem antes de aceitá-la como a uma religião,
um novo paradigma, em um ato de fé. Apenas aceitá-la, sem reflexão, sem
discussão, só porque é. A partir da aceitação brotaram tantas eus, que chega a
ser quase inacreditável. Tantas eus que foram dadas à luz, e que se revezam na
tarefa de passar o tempo... lembro de um diálogo de um filme, certa vez, em que
o rapaz dizia para sua companheira: _ É preciso saber passar o tempo, ou você
não vai sobreviver. E pensar que quase não sobrevivi... algumas vezes parece ter
sido, como dizem, por um triz. Mas veio a internet, e a facilidade de pesquisar
e estudar sobre diversas áreas do conhecimento, inclusive psicologia e
psiquiatria. De repente eu sabia o que fazer. De repente a solidão tornou-se
perfeitamente aceitável, e com o tempo, desejável. Nunca pensei que um dia
sonharia com ela, com o momento de estar só em casa e criar. Criar o que fazer,
perder o medo de estar só e criar o que fazer, ou mesmo de estar só e não fazer
absolutamente nada. Por vezes sequer dormir. Por vezes apenas sentar, respirar
e deixar passar o tempo. A solidão não é massacrante, não é assustadora,
não é sequer tema de nada, é apenas a essência, o que de mais real existe. Talvez
a única coisa real desse mundo.