Observação: Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido (ou não) mera coincidência!

sábado, 14 de junho de 2008

Tempo e irrealidade


Estava na coxia. No centro do palco alguém cantava “We can work it out”, embora não tão alto quanto deveria, pois haviam incompreensivelmente solicitado que cantasse mais baixo. Uma pena, tinha uma voz tão potente... Todos batiam palmas ao ritmo da música. Um dos bailarinos segurava um bebê com cara de anjo, que por sua vez levava um cartaz ou algo parecido. Tábuas da salvação? Era o momento ideal para entrarem e estava exatamente pensando em fazer isso quando a musiquinha de videogame a acordou.
Chateou-se tremendamente a princípio; não queria tanta realidade em uma manhã de sábado. Porém, logo deu-se conta de que a casa onde morava não existia mais, ou melhor, existia, mas como a tal da musiquinha infantil, a que não tinha chão; como se andasse em nuvens. Talvez por isso piso da varanda houvesse estufado sob seu olhar perplexo. Nos últimos meses flutuava de lá pra cá, entre esquecimentos, o tempo passava sem que tivesse muita consciência dele. F. havia mencionado espantada o fato de já estarem no meio do ano. Não compreendera o estranhamento de F., já que era assim que as coisas andavam ultimamente. Normal, pensou. A vida passava como aroma. Deu-se conta de que o que havia de mais real no momento era um sonho dos últimos anos. Uma inversão dos fatos fizera com que as paredes ruíssem e uma irrrealidade paralela pudesse mostrar-se espantosamente viva. Talvez tivesse pedido por isso o tempo todo. Talvez todos aqueles tijolos fossem apenas cenário e agora pudesse olhar através das nuvens e encontrar seu mundo. O mundo que escondera, mas que estivera esperando por ela todo tempo. O lugar ou a falta de lugar a que realmente pertencia.